Não fazer nada por opção é uma coisa; deixar sempre para amanhã a resolução dos problemas é outra
NO PROCESSO DE COACHING, SEMPRE ME DEPARO COM MEU COACHEE NESTA QUESTÃO:
ÓCIO OU PROCASTINAÇÃO ? VAMOS ENTENDER DE UMA VEZ POR TODAS?
Se você sempre deixa para amanhã as tarefas que considera chatas ou desgastantes, você é um procrastinador. Porém, por mais que você adie a resolução dos problemas, cedo ou tarde vocês se esbarrarão em alguma esquina – e você sabe disso. Quando acontecer, talvez o mal-estar seja ainda maior, pois será pego de surpresa para enfrentar o desafio. É aí que está uma das principais diferenças entre a procrastinação e o ócio. Enquanto a primeira atitude posterga indefinidamente questões incômodas com desculpas esfarrapadas, a segunda é uma opção consciente de não fazer nada. O ócio não é uma fuga. É um templo de reflexão sem culpa porque quem o desfruta sabe que há outro momento reservado para resolver as pendências.
Assim como a procrastinação, o ócio, porém, não costuma ser bem visto por quem está ao nosso redor. Em um mundo focado em produzir e consumir, ficar parado sem fazer nada pode soar como uma atitude ofensiva. Mas assim como nossos aparelhos eletrônicos que precisam de vez em quando de uma recarga na tomada, nosso corpo e nossa mente também pedem pelo descanso para se recompor. O ócio permite fugir da rotina apressada e decantar nossos dilemas. Tão ruim quanto não encarar o que nos desafia e incomoda é tentar resolver a vida sem nenhuma calma ou reflexão.
A procrastinação o perturba no dia-a-dia? Na sua vida não há espaço para o “fazer nada”? As ideias a seguir podem lhe ajudar a pensar sobre esse tema.
ASSUNTOS ESPINHOSOS
Existem assuntos que tendem a ser procrastinados. Problemas em relacionamentos, na família, doenças graves ou decisões complicadas no trabalho. São questões que, lá no fundo, você sabe que precisará resolver, mas lhe falta coragem para encará-los. Então deixa para depois. Muitas vezes, nos enganamos ao ignorar o que nos incomoda, ao não procurar o porquê do problema e só querer empurrá-lo para frente.
Cada um tem as suas fragilidades. Imagine dois gerentes de uma fábrica. Cada um deles precisa demitir 20 funcionários. Para um, pensar na dor da demissão e na situação das famílias pode ser devastador. “Minha nossa, não posso fazer isso agora. Vou deixar para depois”, conclui. Para o outro, como a situação do país e da empresa são difíceis, a única maneira de a empresa continuar existindo é, infelizmente, manter um quadro reduzido. O segundo gerente, provavelmente, fará suas demissões mais rapidamente e sem tanto sofrimento.
Um não é melhor do que o outro. São apenas personalidades diferentes e, consequentemente, maneiras diversas de lidar com uma mesma situação.
O primeiro passo para lidar com assuntos espinhosos é ter a coragem de encará-los. Quais tipos de problemas que mais lhe incomodam? Responder essa pergunta é fundamental para seguir em frente.
MOTIVAÇÃO
A falta de comprometimento com projetos, sejam da empresa ou da família, aumentam a chance de você procrastinar. Há um exemplo simples, mas bem ilustrativo. Dois pedreiros estão colocando os tijolos de uma parede. Quando perguntados o que estão fazendo, um responde que coloca o tijolo, depois a argamassa e assim por diante até a altura determinada. O outro responde que está fazendo o primeiro quarto de um total de três que terá a casa. Quem você acredita que tem mais chance de deixar o término da parede para o dia seguinte? Provavelmente quem está menos motivado.
Motivação, no entanto, não significa trabalhar sempre, até de madrugada, para resolver todos os problemas da listinha. Quem teve um dia difícil é capaz de perceber que algumas tarefas serão melhor executadas depois de uma noite de descanso. Se há tempo suficiente para diluir as obrigações de maneira planejada, por que não?
A BUSCA DA PERFEIÇÃO
Você é daqueles que só entra no negócio se for para ficar perfeito? Bem… o perfeccionismo também o leva a procrastinar. Pessoas perfeccionistas e muito exigentes consigo mesmas costumam acreditar que, se não podem fazer o melhor trabalho do mundo, é melhor nem começar. Quanto mais perfeccionista, menos tende a se arriscar naquilo que não conhece muito bem e, assim, adiar essa experiência ou até evitá-la.
E QUANDO EU NÃO QUERO FAZER NADA, ALGUMA OBJEÇÃO?
Claro que não! Isso é o ócio. Como dito no começo do texto, o “fazer nada” não é um “pecado”. Fazer nada, conscientemente, é até muito bom, pois proporciona um momento para organizar, recarregar e clarear a mente. Diversas pesquisas científicas já comprovaram que o corpo precisa desses momentos para continuar produtivo.
Ao mesmo tempo em que ficar sozinho imerso em seus pensamentos ajuda a esclarecer as ideias, essa pode ser uma experiência assustadora para muita gente. Essa resistência, muitas vezes inconsciente, de olhar para si mesmo faz com que se fuja dessa situação. Cria-se mais e mais urgências adiando o momento de ficar sozinho e silenciar. E fazer isso é muito fácil em um mundo repleto de informação e estímulos à interação. Mas pode ser uma armadilha.
O drama do ócio também é cultural. “Mente vazia, oficina do diabo!” – quem nunca ouviu ou disse essa frase? A não-produtividade é um tabu. Não à toa, a palavra negócio significa, etimologicamente, negar o ócio. Mas a vida não são só negócios, certo? Por isso, encontre tempo para você, pare, olhe para dentro e pense sem restrições.
COMO TER MAIS ÓCIO E MENOS PROCRASTINAÇÃO EM SUA ROTINA?
A primeira dica é identificar onde o seu calo aperta. Quais problemas você tem dificuldade de encarar? Quais são as suas resistências? Quais são as origens das suas dificuldades? E até: do que você sente medo? Olhar para dentro é difícil mesmo, e é por isso que algumas pessoas procuram ajuda profissional nessa fase, recorrendo a terapias, por exemplo.
Depois, coloque no papel as pendências que fazem seu coração acelerar. Pode parecer uma tarefa simples, mas não se surpreenda se revelar-se difícil. De qualquer forma, é um ótimo começo. Coloque ordem nesses problemas e dê prioridade a cada um deles. Sabendo quais são seus obstáculos, estabeleça prazos factíveis para solucioná-los. Se há uma questão familiar que exigirá dedicação intensa, mas você está prestes a entregar um grande projeto no trabalho, garanta que no mês seguinte a família será prioridade. A consequência de não cuidar dos problemas é uma só: o que não é resolvido não sumirá. E, pior ainda, pode virar uma bola de neve.
Quando estiver com a vida mais organizada, você terá mais facilidade para criar momentos de ócio. Sem culpa.
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